Avaliação do Ciclo de Vida

Histórico

Durante a primeira crise do petróleo, entre os anos 60 e início dos anos 80, alguns estudos envolvendo ainda uma forma muito básica do que hoje conhecemos por Análise de Ciclo de Vida tiveram início. Muito em virtude da preocupação criada quando se descobriu que tal recurso era uma fonte esgotável. Intensificou-se então a busca por fontes alternativas de energia e pelo aperfeiçoamento dos processos existentes de modo a otimizar consumos de recursos naturais esgotáveis.

Muitos destes estudos abordaram a questão das embalagens de bens de consumo e política de reciclagem, e se direcionaram principalmente para a comparação entre aquelas retornáveis versus as de único uso (one way).

Em 1965, a companhia americana de bebidas Coca-Cola Company teria custeado um estudo para comparar diferentes tipos de suas embalagens, a fim de identificar o recipiente mais adequado do ponto de vista ambiental. Realizado pelo Midwest Research Institute (MRI), este processo de quantificação da utilização dos recursos naturais e dos índices de emissão para o meio ambiente. foi chamado de Resource and Environmental Profile Analysis (REPA).

Considerado um marco para o surgimento do conceito “Life Cycle Assessment” no ano de 1974, a mando da United States Environmental Protection Agency (USEPA), houve um aprimoramento do modelo REPA servindo de base para o estabelecimento de um procedimento de comparação dos impactos ambientais gerados por estes produtos. Na seqüência, no Continente Europeu, desenvolveu-se um procedimento similar denominado Ecobalance.

Posteriormente, diferentes métodos foram aplicados aos mesmos produtos, entretanto, os resultados nem sempre eram coincidentes, o que minou a confiabilidade desta ferramenta. As principais diferenças eram referentes às necessidades energéticas, emissões de uma forma geral e geração de resíduos sólidos. Esta época é referenciada por alguns autores como a fase de “guerra dos ACV’s”.

Portanto, com esta necessidade de organizar uma metodologia e critérios para ACV, surgiram novos órgãos. Destaca-se a Society for Environmental Toxicology and Chemistry (SETAC) criado em 1979 nos EUA. Da mesma forma, baseado principalmente em publicações da SETAC, a International Standardization Organization (ISO) iniciou no ano de 1993 a elaboração das normas para a gestão ambiental de aceitação internacional. Como resultado deste trabalho, foi publicado a série de normas ISO 14000, da qual fazem parte os requisitos da ACV (série ISO 14040).

Mais recentemente, em 2000, uma parceria entre a SETAC e a United Nations Environment Programme (UNEP) foi estabelecida, originando o Life-Cycle Initiative, que visa desenvolver e disseminar ferramentas práticas para avaliar o ciclo de vida de sistemas de produtos.

 

Normatização

ABNT NBR ISO 14040: avaliação do ciclo de vida: princípios e estrutura. Rio de Janeiro: ABNT, 2009, 21 p.

ABNT NBR ISO 14044: avaliação do ciclo de vida: requisitos e orientações. Rio de Janeiro: ABNT, 2009, 46 p.

ABNT ISO/TR 14047: avaliação do ciclo de vida: exemplos ilustrativos de como aplicar a ABNT NBR ISO 14044 a situações de avaliação de impacto. Rio de Janeiro: ABNT, 2016, 91 p.

ABNT ISO/TR 14049: avaliação do ciclo de vida: exemplos ilustrativos de como aplicar a ABNT NBR ISO 14044 à definição de objetivo e escopo e à análise de inventário. Rio de Janeiro: ABNT, 2014, 53 p.

ABNT ISO/TS 14071: avaliação do ciclo de vida: processos de análise crítica e competências do analista: Requisitos adicionais e diretrizes para a ABNT NBR ISO 14044:2009. Rio de Janeiro: ABNT, 2018, 12 p.

 

Estrutura

Um estudo de ACV é estruturado por quatro fases principais: fase de Definição de Objetivo e Escopo; fase de Análise de Inventário; fase de Avaliação de Impactos e por último a fase de Interpretação dos resultados.


1) Definições de Objetivo e Escopo

      As definições de objetivo e o escopo compreendem as decisões que conduzirão o estudo de ACV até o seu resultado final, de modo que é de extrema importância estabelecê-las de maneira clara e correta.

     Com relação ao Objetivo, deve-se abordar:

- a aplicação pretendida do estudo e as razões para a sua execução;

- o público alvo (para quem os resultados deverão ser comunicados);

- se trata-se de um estudo comparativo;

 

     Enquanto que o Escopo deve incluir os seguintes itens:

- o sistema de produto a ser estudado;

- as funções do sistema de produto (ou dos sistemas em estudos comparativos);

- a unidade funcional;

- a fronteira do sistema;

- procedimentos de alocação;

- categorias de impactos selecionadas e metodologia de avaliação de impactos;

- requisitos de dados;

- pressupostos;

- limitações;

- tipo de revisão crítica se aplicável;

- tipo e o formato do relatório;

 

     A ACV, por ser um processo iterativo, permite ao administrador do estudo modificar os vários aspectos abordados no escopo, visando atender ao objetivo traçado originalmente.

 

2) Análise de Inventário

     Esta etapa compreende a coleta de dados e cálculo aplicados às entradas e saídas do sistema de produto estudado. Os procedimentos de cálculo visam quantificar cada fluxo e referenciá-lo de acordo com a unidade funcional já escolhida na etapa anterior da ACV. O balanço de energia e massa é uma importante condição que deve ser respeitada, garantindo a integridade e controle dos processos. Normalmente é a etapa que mais demanda esforços, recursos e tempo, uma vez que nem todos os dados são de fácil levantamento. Alguns fatores devem ser considerados:

- fluxograma do sistema de produto;

- procedimentos de cálculo;

- procedimentos de alocação;

 

3) Avaliação de Impacto de Ciclo de Vida

     Esta fase da ACV tem como principal objetivo, estudar a significância dos impactos ambientais potenciais de um sistema de produto, utilizando os dados compilados no ICV. Existem diferentes formas para a execução desta avaliação e muitos métodos já foram criados. Para tanto, deve-se atentar à transparência dos pressupostos e considerar aspectos como subjetividade nas análises ou diferenças entre indicadores e impactos.

     Elementos obrigatórios desta fase da ACV devem conter:

     - Escolha das categorias de impacto, indicadores para estas categorias e modelos de caracterização;

     - Classificação dos resultados do ICV (correlação para com as categorias de impacto);

     - Cálculos de caracterização;

 

     O resultado da AICV são os valores em indicadores de categoria, caracterizados conforme os modelos aplicados. Fatores opcionais da AICV são:

     - Agrupamento;

     - Ponderação;

     - Normalização;

 

     O alcance dos resultados, incluindo o grau de comunicabilidade e o grau de subjetividade, dependem do uso (ou não) dos fatores opcionais aplicados no estudo.

 

4) Interpretação

     Nesta etapa, as constatações dos passos 2 e 3 de uma ACV são consideradas em conjunto, de forma que informações do Inventário e informações geradas pela Avaliação de Impacto sejam convergidas na forma de conclusões e que provejam recomendações. É importante que as interpretações estejam de acordo com as definições iniciais de objetivo e escopo, e que expliquem as limitações do estudo, realizando uma análise crítica com relação à qualidade dos dados (ICV) e do método de AICV utilizado, principalmente com relação à subjetividade associada ao mesmo.

     Como todas as etapas anteriormente descritas, a interpretação é um processo iterativo, permitindo rever e revisar as definições iniciais, assim como a qualidade e a natureza dos dados coletados, de forma consistente com o objetivo proposto.